"O projeto que apresentamos para o Conjunto Nordia abrange uma série de problemas. São problemas urbanísticos e arquiteturais que o próprio local estabelece: gabarito, orientação, circulação, ventilação, visibilidade, ocupação do solo, etc. Problemas que estariam certamente definidos numa cidade baseada em plano diretor atualizado, o que não se verifica em Tel-Aviv, cidade que surgiu espontaneamente - como coisa inadiável - e somente agora começa a ser disciplinada de acordo com os princípios do urbanismo contemporâneo. Isso dificulta enquadrar tais problemas em resoluções de caráter definitivo. As soluções convenientes são, a meu ver, as que melhor se adaptarem às necessidades de Tel-Aviv, aos aspectos positivos e às suas deficiências, sem a pretensão de torná-la - já tão construída - num exemplo do urbanismo moderno.
Compreendemos, sem dúvida, a conveniência de se fixar seu zoneamento urbanístico, suas áreas de habitação, trabalho e recreio, mas isso, levando em conta a cidade que existe e cresce com todas as contradições inevitáveis. Daí a razão de insistirmos em dar ao Conjunto Nordia um sentido especificamente comercial, com edifícios de escritórios, lojas e todos os complementos e atrativos que estas últimas solicitam, pois o novo centro comercial, projetado pela municipalidade, não impedirá que o comércio existente em Tel-Aviv continue a se expandir espontaneamente, reclamando outros complementos, como o Conjunto Nordia, por exemplo, que lhe garantirá lojas mais luxuosas e, principalmente, escritórios comerciais, pois muitos deles atuam nesse setor de forma inadequada, uma vez que se situam fora do mesmo, em zonas residenciais.
Apesar de convictos da justeza do nosso ponto de vista, resolvemos apresentar uma variante - uma solução mista de escritórios e apartamentos - sendo que estes últimos dotados dos complementos indispensáveis à habitação coletiva, como escola primária, jardim de infância, centro de puericultura, inclusive o grande jardim suspenso para play-ground e recreio que a solução possibilita.
Com relação aos problemas específicos do Conjunto, podemos esclarecer o seguinte:
1. O programa que nos foi apresentado estabelece para o Conjunto Nordia a construção de lojas, escritórios e apartamentos, garages, etc., sendo que as primeiras constituem o elemento básico, sob o ponto de vista econômico, considerando-se o local e a valorização do solo.
2. A idéia usual que logo ocorre e que rejeitamos integralmente é a construção compacta, em todo o terreno se possível, de um grande conjunto de lojas (quatro, cinco ou mais andares além do subsolo), solução que compromete urbanisticamente as vias de acesso e os prédios vizinhos.
3. A solução que apresentamos não tem apenas como objetivo o interesse comercial, mas, também, dotar a cidade de Tel-Aviv de um setor de lojas diferentes, no qual elas se distribuem de forma variada, criando espaços livres e um ambiente amplo, cheio de atrativos (bares, cinemas, restaurantes, salões de exposições, galerias de arte, etc.), capaz de constituir para a cidade um local de turismo interessante. Isso justifica a forma arquitetônica; livre, cheia de curvas e surpresas, solução que uma obra de caráter estritamente comercial não poderia justificar.
4. Dentro do mesmo espírito, procuramos dar às lojas solução apropriada, situando o piso do pavimento térreo um metro acima do solo, de forma a garantir tanto para esse piso, quanto para o semi-enterrado, as mesmas características, o mesmo valor, uma vez que ambos são diretamente ligados às ruas por largos planos inclinados.
5. Ainda com o objetivo de fugir à rotina, evitamos nos andares de lojas as ruas interiores que lhes dão aspecto pobre, quase de mercado. Na solução que estudamos, as lojas constituirão conjuntos de formas variadas como grandes ilhas envidraçadas, o que as deverá enriquecer e valorizar. Neste sentido, previmos junto às mesmas a localização de cafés, bares, cinemas, etc. previmos inclusive que o edifício de escritórios tivesse sua entrada situada no piso semi-enterrado, obrigando os que nele trabalham a transitarem pelas lojas desse piso, o que lhes dará maiores possibilidades comerciais.
6. A construção dos blocos de escritórios constituía outro problema na fixação do conjunto arquitetônico. Não desejávamos, evidentemente, adotar uma solução com muitos blocos (oito, dez, ou quinze pavimentos), solução que ocuparia demasiadamente o terreno. Atraía-nos, isso sim, a adoção de apenas dois ou três grandes blocos, e com isso as áreas abertas convenientes ao desafogo da cidade.
7. Fixado o critério de prédios em altura (40, 30 e 25 pavimentos), restava-nos definir a forma arquitetônica. Sabemos, por experiência, como em certos casos esse problema é importante e como as formas prismáticas - quando de grande porte - interferem nos conjuntos urbanos, como se fossem verdadeiras muralhas de concreto, cortando-lhes a vista, a ventilação, etc. Daí a solução adotada: a forma cilíndrica, mais leve e uniforme.
8. É claro que os problemas de ventilação, orientação, visibilidade, circulação, funcionamento, etc., tinham que estar presentes na fixação do plano arquitetônico. Quanto à orientação, por exemplo, nunca encaramos esse problema de forma ortodoxa, vendo-o, ao contrário, de maneira flexível, certos de que a melhor solução não é aquela em que os prédios estão orientados correta e uniformemente, mas a que, em média, oferece maiores vantagens no que se refere aos demais problemas da arquitetura e do urbanismo (topografia, programa, ventilação, visibilidade, etc.). Consideramos o problema da orientação com o otimismo de Le Corbusier, quando diz 'Toda a orientação é boa, desde que estudada e, se necessário, protegida convenientemente.' Esse ponto de vista, que também adotamos, justifica os blocos cilíndricos projetados, providos de brise-soleils móveis e verticais.
9. Com relação à ventilação, o projeto prevê sistemas de ar condicionado e ventilação mecânica, sempre que indicados.
10. A circulação foi ainda objeto de apurado estudo, quer na circulação exterior das lojas, em que rampas e largos espaços livres foram ligados ao passeio, quer no interior dos andares das lojas, onde evitou-se as galerias usuais, tão estreitas às vezes que mais parecem corredores, sistema que substituímos por largas passagens de formas agradáveis. Sobre a circulação vertical do conjunto, diremos estarem previstos, além dos elevadores, escadas-rolantes, monta-cargas, etc., inclusive os elevadores de carga indispensáveis ao transporte de mercadorias. O problema de estacionamento fica resolvido com os dois andares-garagem tendo capacidade para 3000 carros.
11. Os blocos altos destinados aos escritórios devem exprimir, a nosso ver, a técnica do concreto armado e o progresso da indústria construtiva em toda a sua plenitude. Isso explica os grandes balanços, a flexibilidade das divisões internas, a possibilidade de instalação de novos conjuntos sanitários em toda a circunferência do prédio, o ar condicionado, a ventilação mecânica, as grandes placas de cristal das fachadas e os brise-soleils.
12. Quanto à visibilidade entre os edifícios, a própria proteção de brise-soleils se incumbiu de resolvê-la.
Estas as características do Conjunto Nordia, obra que desejaríamos marcasse em Tel-Aviv o progresso da técnica, o apuro da forma, os tempos novos que surgem cheios de sonhos e esperanças." *1
*1 CONJUNTO NORDIA. Módulo, Rio de Janeiro, v.10, n.39, p.17-22, mar/abr. 1965.