"Uma construção nova em Ouro Preto para hotel apresentava, por tratar-se de obra de dimensões bastante consideráveis, a grande dificuldade de harmonização de aspecto com o local. Ouro Preto, hoje cidade monumento por determinação do Governo Federal, conserva além de inúmeras construções do período colonial, um conjunto de excepcional unidade com suas ruas de casa agregadas e seus telhados característicos. O hotel de Ouro Preto, no entanto, não podia ser construido em estilo colonial. A imitação desse tipo de arquitetura, cujo espírito tão bem se apreende naquela cidade, não encontra nos nossos dias justificativa. Realmente, todos os bons periodos da arquitetura , todos enfim que se classificaram definitivamente, obedeceram e exprimiram o espírito e as possibilidades de suas épocas, o que nos permite pelo estudo de cada um deles avaliar o gráu de progresso e as condições sociais das épocas que representaram. A construção de um hotel em estílo colonial em Ouro Preto seria uma imitação passadista sen interesse, contrariando os princípios modernos de conservação de monumentos, com o inconveniente de trazer aos menos iniciados no assunto confusão lamentável. Por essas razões o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, com o zelo que caracteriza todas as suas iniciativas, depois de analizar o problema da forma mais precisa e de examinar as diversas possibilidades que se apresentavam para sua solução, resolveu adotar o nosso projeto. O hotel de Ouro Preto está sendo construído de acordo com os mais modernos processos construtivos. Plasticamente procuramos uma solução que fosse uma expressão o mais possível pura de arte contemporanea, mas apresentando a necessária ligação com o ambiente local. O pilotis, a cobertura de telha de canudo, as janelas em serie, a silhueta do bloco em que predomina a linha horizontal e mesmo a utilização de certos elementos tradicionais, como treliças , etc, foram empregados com essa intenção. A solução apapta-se logicamente aos declives naturais do terreno, evitando movimentos de terra desnecessários e aproveitando ainda sua maior dimensão, estendida que está na linha NO-SE. A parte destinada ao serviço foi localizada da mesma forma, aproveitando as depressões do terreno, o que tornou a solução mais justa. Verificamos que para localização de quartos a orientação mais adequada em Ouro Preto, seria NE. Para esse setor foram todos orientados o que lhes garnatiu isolação uniforme e corréta. As salas de estar, leitura, restaurante, etc., além de recebeem insolação idêntica, abrirão também para a rua São José, sendo que a prteção dessa parte, se necessária, será feita por cortinas de réguas que graduarão a luz conforme a conveniência. O programa do hotel de Ouro Preto era simples - quartos de diversos tipos, apartamentos, salas de estar, de leitura, de correspondência, restaurante, etc. Consideramos de início como indispensável que os automóveis tivessem acesso até o nível dos pilotis onde estão localiadas as zonas destinadas a jogos e recreio. Daí uma rampa levará o hóspede ao primeiro pavimento onde fica a parte de portaria, telefones, controles, salas de estar e o restaurante. Todas as peças serão ligadas, prevendo-se para as divisões necessárias o próprio mobiliário, o que dará ao conjunto maior amplitude e leveza. O andar imediato será destinado aos quartos e apartamentos . A solução adotada permitirá que todas as entradas fiquem no mesmo piso, o que além de evitar mais lance de escada, permitiu a supressão de elevadores. A solução das salas dos apartamentos com altura dupla nasceu da necessidade de orientar todos os quartos uniformemente, de manter as entradas no mesmo piso e de reduzir a altura do predio, que não deveria constar muito no conjunto da cidade. A parte destinada ao serviço, que constará de cozinha, lavanderia, alojamento de pessoal, garage, etc., terá comunicação diréta com os andares de salas e quartos, onde haverá uma pequena copa de distribuição, assim como rouparia com descida e subida para roupa suja e limpa." *1
*1 HOTEL de Ouro Preto. Revista Municipal de Engenharia, Rio de Janeiro, v.9, n.2, p.82-7, mar. 1942.