"Nos Teatros Oficiais de Brasília, nosso objetivo foi manter o critério de simplicidade e liberdade plástica, que acreditamos caracteriza os edifícios dessa cidade.
Desejávamos em primeiro lugar que os teatros atendessem as determinações do Palno Piloto, que os localizou junto à Plataforma, e, que se apresentassem como um exemplo de bom funcionamento. Mas nos preocupava também que constituíssem uma obra de interesse arquitetônico, uma obra que fugisse à rotina que a repetição de formas vem estabelecendo e fosse, embora modesta, uma contribuição à técnica e à arte teatral. Preocupou-nos principalmente não limitar, por questões de equilíbrio arquitetônico, os espaços internos, o que muitas vezes tem levado os arquitetos, em virtude da aceitação dos partidos clássicos, à redução de áreas indispensáveis e, com esse objetivo adotamos uma solução em que a forma externa constitui como que um invólucro dentro do qual se acomodam amplas áreas de trabalho, previstas de maneira quase provisória - portanto, de construção econômica - aptas às atualizações que a técnica solicitar no futuro. O projeto dos teatros sofreu diversas modificações, tanto na concepção urbanística de seus elementos qunto na solução dos teatro propriamente dita.
O primeiro partido por nós fixado previa dois teatro independentes. Um destinado à Ópera e Ballet e o outro, menor, Comédia, Ópera e Música de Câmara. Naquele estudo, o Teatro de Comédia tinha um sentido novo e revolucionário que muito nos agradava, pois eliminava a clássica localização da platéia e do palco de forma irremovível, sem dúvida um obstáculo para a elaboração das peças teatrais, da cenografia e da própria representação, e adotava como princípio básico a disposição variável da platéia, permitindo todas as modalidades de teatro, desde o de arena até o clássico grego. Estabelecia, com essa finalidade, um sistema de pistões que levantavam a platéia nos pontos desejados possibilitando que os cenários em alguns casos envolvessem o público para integrá-lo no espetáculo, evitando assim a separação ainda hoje existente entre esse e os artistas, e criando para os teatrólogos e cenaristas um novo campo de especulaçãoprofissional.
Dificuldades diversas, todavia, impediram que prosseguíssemos na elaboração desse projeto, que será construído em outro setor como um teatro de caráter experimental, e nos levaram à presente solução - mais compacta e prática - cujas principais características enumeramos:
1 - Situa no mesmo conjunto com possibilidade de funcionamento simultâneo num único espetáculo, o Teatro de Ópera e Ballet e o Teatro de Comédia, Ópera e Música de Câmara (Teatro Mannheim).
2 - Não subordina os problemas funcionais de espaço e volume à forma externa, evitando a redução de áreas indispensáveis à técnica teatral.
3 - Cria para esse fim uma forma arquitetônica diferente, que como um invólucro comtém todo o edifício, permitindo que os serviços de palco e anexos se distribuam sem limitação e sem preocupação com acabamento, como serviços quase provisórios, de adaptação simples e futuras atualizações.
4 - Evitando a forma usual a solução estabelece em volta da platéia um setor em que os cenários se poderão prolongar - de forma quase infinita - situando o espectador dentro da própria representação
5 - Fixa acessos francos e adequados, de modo a possibilitar fácil circulação para o público.
6 - Organiza todos os setores necessários em uma obra dessa natureza, como: administração, serviço médico, imprensa, camarins, salões de ensaio, carpintaria, seção de pintura, depósitos de roupa e material, bar, etc.
7 - Localiza fora do edifício, conforme se verifica hoje em todos os modernos teatro europeus, os serviços gerais de guarda-roupas, marcenaria e cenografia, que exigem grandes espaços e correm maior risco de incêndio, tendo sido previstas, como complemento dos mesmos, pequenas áreas no interior do edifício, destinadas exclusivamente às representações do dia.
8 - O sistema de palco empregado no Teatro de Ópera e Ballet (2.000 espectadores) permite - com utilização de elevadores e carros combinados - a mudança de cinco cenários em poucos segundos, e os urdimentos estabelecidos possibilitam aumentar a boca de cena de modo quase ilimitado sob o ponto de vista atual.
9 - Idênticas facilidades com relação à mudança de cenário estão previstas para o Teatro de Comédia, Ópera e Música de Câmara (500 pessoas) e platéias suplementares poderão adaptá-lo, igualmente, às conveniências do Teatro de Arena e Elisabetano.
10 - Iluminação, ar condicionado e ventilação mecânica serão utilizados nos setores convenientes.
11 - Localiza no terraço um restaurante, de fácil acesso e de onde se descortinará esplêndida vista sobre o Eixo Monumental.
12 - Além dos "foyers" e salas de espera, cria a solução adotada condições para que dois museus de teatro sejam instalados nesses setores.
13 - Prevê apenas um camarote destinado ao Presidente da República, situado de foema acessível e independente." *1
*1 NIEMEYER, Oscar; CALVO, Aldo. Teatros oficiais no Setor Cultural de Brasília. Módulo, Rio de Janeiro, v. 3, n. 17, p. 5-6, abr. 1960.