"Ao estudarmos a Praça Maior da Universidade de Brasília, foi nossa preocupação impedir que seus edifícios lhe conferissem, por suas proporções, aspecto monumental. Com esse objetivo reduzimos alturas, volumes e espaços livres, desejosos de manter na mesma um caráter singelo e universitário. Isso, entretanto, não constituiu tarefa fácil de realizar, considerando os edifícios que a compõem, edifícios que se baseiam em vastos e complexos programas construtivos. O auditório, p. ex., não se destina apenas a conferências ou cinema, sua utilização se estende a congressos, inclusive da UNESCO, obrigando-nos a prever entradas independentes - 'foyer' para público e salas de recepção para delegados - e ainda, salas de estar, reunião, comissões e recintos especiais, como o que lateralmente destinamos para imprensa, rádio e televisão. Essa diversidade de funções, obrigou-nos também a encontrar uma disposição interna conveniente, com bancadas para delegados e recintos para público e assessores.
O Museu da Civilização não permitia igualmente reduções internas apreciáveis, pois se baseava num programa com 4000 metros quadrados de área útil. Apenas a Reitoria e a Biblioteca constituíam construções usuais com áreas reduzidas.
O projeto que apresentamos procura atender esses problemas dentro dos princípios de simplicidade fixados, o que não nos impediu, entretanto, de conceber estruturas atualizadas, nem tampouco os grandes vãos e balanços que a arquitetura solicitava, quando o sistema estrutural se apresentava natural e intuitivo. Assim, no Auditório, a cobertura se apóia somente em quatro montantes, sobre os quais se distribui um conjunto de vigas que garante - sem dificuldades - vencer os vãos e balanços projetados, vãos e balanços que assumem aspeto surpreendente no prédio do Museu - 80 e 30 metros - e que o exame das plantas demonstra como foi fácil para o calculista obtê-los, transformando as paredes longitudinais em vigas-paredes, com 10 metros de altura. Preocupou-nos ainda no estudo da Praça Maior que todos os seus edifícios tivessem, internamente, grande flexibilidade. Daí a solução fixada para o Museu que é constituído de um enorme salão com 140 metros por 25, dentro do qual se distribuirão, desmontáveis e removíveis, as sobrelojas necessárias, sobrelojas que se modificarão de acordo com a evolução contínua do material a expor. O mesmo se verifica na Biblioteca e na Reitoria, sendo que apenas o Auditório permanece em relativa rigidez, disciplinado pelo próprio funcionamento, pelos problemas de visibilidade, acústica, iluminação, etc.
Estas as razões técnicas que conduziram o projeto da Praça Maior da Universidade de Brasília, 'marco avançado da civilização em pleno sertão brasileiro' como se costuma dizer, onde contudo a maioria dos nossos patrícios se debate na mais negra miséria. É claro que a Universidade de Brasília dará mais vida e interesse à cidade, criando o ambiente indispensável de pesquisa e especulação intelectual, mas isso, infelizmente, para uma pequena maioria de privilegiados. Os outros, a grande maioria a que me referi, permanecerão algum tempo alheios a esses problemas, preocupados com sua luta diária, pelo pão e pela terra que ainda não lhes pertence.
Um dia, certamente, também eles pensarão em cultura, levando seus filhos para a escola e para a universidade que projetamos. Nesse dia nosso trabalho terá, pelo menos, um sentido mais nobre. Não será apenas uma contribuição aos ricos e remediados, mas a todo o Povo do país." *1
*1 PRAÇA maior da Universidade de Brasília. Módulo, Rio de Janeiro, v.7, n.28, p.8, jun. 1962.