Obra / Arquitetura

Fundação Oscar NiemeyerFundação Oscar Niemeyer
CENTRO DA BARRA - ATHAYDEVILLE
Ano: 1969
Local: Rio de Janeiro
País: Brasil
Descrição:

 

"O terreno é dividido em áreas circulares de 170 mts de diâmetro. Sobre essas áreas se localizam os blocos de habitação com 25 pavimentos. A intenção é não ocupá-lo demasiadamente como ocorreria com a construção de prédios de pequeno porte, criando ao contrario as grandes áreas verdes que o urbanismo sugere. Assim, em vez de uma ocupação de 60% com predios de 4 pavimentos, ou um pouco menor, com predios de 8 pavimentos, a solução ocupa apenas 12,5%, transformando o local num grande parque. É a integração do homem na natureza, uma das premissas do urbanismo contemporâneo que a incompreensão de muitos dificulta realizar.
Em vez de ocupar o terreno inteiramente (soluções a, b, c e d) a solução em altura o preserva na sua conformação natural e na sua beleza, permitindo os campos de esporte, 'playgrounds', piscina, etc que a habitação coletiva solicita.
Enquanto nas soluções de prédios baixos a vista é limitada a pequenos setores - entre prédios, na solução em altura ela se estende pelas quadras, entre blocos, desde a lagoa até o mar.
A fixação dos apartamentos a partir da cota +3, garante para todos os moradores a vista para o mar e as montanhas.
Com o objetivo de disciplinar a circulação criamos sob as áreas de habitação uma grande garagem semi-enterrada (1,5 em relação ao numero de apartamentos) os carros estacionam junto às habitações como todos desejam.
Não haverá carros estacionados pelas ruas. Até para visitantes foram previstos estacionamentos.
A análise urbanística definiu os complementos do conjunto: 1 escola secundária, 5 escolas primárias, 5 escolas maternais, comércio local, centro comercial (escritórios, lojaS, bares, cafés, cinema, restaurante, pequeno hotel, banco, correios e telégrafos, etc).
(...) restava prever o hotel de turismo e isso levou-nos a fixar um critério para as construções junto à praia. A incompreensão existente e que lamentavelmente se repete não poderia subsistir e criamos próximo ao mar uma grande marquise onde ficam: lojas, restaurantes, bares, piscinas, locais de esporte, etc. É a praia entregue à coletividade que a deve ocupar e usufruir. Dentro desse esquema localizamos o hotel com 30 pavimentos."  *1
 
 
 
"O projeto que apresentamos se baseia no Plano da Barra de autoria do arquiteto Lucio Costa, respeitando normas, o zoneamentos e espaços livres fixados.
A solução adotada  procura manter certas características do nosso estudo anterior, evitadando construções (lojas, comércio, etc) próximas das torres de habitação, mantendo-as - como a idéia original previa - como que simplesmente erguidas num grande parque arborizado. Para isso, criamos um setor de comércio e diversões que corta o terreno em direção ao mar, onde moradores encontrarão, nas pequenas ruas e praças projetadas, lojas, restaurantes, bares, cinemas, teatro e igreja, além de 5 prédios de 20 andares, 4 destinados a escritórios e 1 a 'service-flats'. Constituirá o setor de comércio e diversões um local cheio de vida e movimento, propício aos encontros e contatos desejáveis, contrastando favoràvelmente com a tranqüilidade e o sossego das áreas habitacionais. No setor de comércio e diversões são previstas ainda duas praças; uma, a 'Praça do Sol' próxima do mar e de acesso fácil aos banhistas da Barra; outra, a 'Praça da Sombra' coberta com ripas de madeira ou tela de nylon o que permite os restaurantes e bares com suas mesas ao ar livre num ambiente sombreado e acolhedor. Mas a idéia de situar êsse conjunto transversal à praia não teve como único objetivo impedir a disseminação de lojas junto às habitações, mas também não localizar o comércio paralelamente às ruas existentes - primeira solução que ocorre - murando-as com um correr de lojas nem sempre atraente mas sem dúvida monótono e repetido. 
A solução que preferimos deu às ruas da Barra um ponto de desafogo, com perspectivas mais amplas para o mar e a lagoa.
Na zona residencial, considerando as dimensões de terreno e o critério de densidade fixado, projetamos 76 tôrres que variam de altura (numa média de 30 andares), todas providas de garagem 150 carros por torre ou sejam +- 140.00 carros.
A distribuição das tôrres atende problemas de circulação e visibilidade e a conveniência de afastá-las do canal e estabelecer entre elas um espaço mais folgado para as escolas, creches, etc.
Qunto à circulação pròpriamente dita, procuramos resolvê-la de forma prática e realista. No conjunto de comércio e diversões as ruas e praças são destinadas exclusivamente aos pedestres sendo que para a circulação externa projetamos ruas de serviço (protegidas pela própria cobertura das lojas) ligadas às vias de contorno.
Na zona habitacional organizamos um esquema que permite independência entre pedestres e veículos, critério que procuramos manter em todo o conjunto, o que explica a ponte sobre o canal e a passagem subterrânea na Avenida das Américas. No setor das residências individuais mantivemos o espírito do Plano da Barra, prevendo conjuntos de lotes quase autônomos. A presença da lagoa sugere o canal projetado e a própria disposição do loteamento. Como a topografia não está rigorosamente definida, estabelecemos um espaço livre entre os lotes e o canal a fim de permitir o talude que as diferenças de nível solicitarem.
Num estudo parcial como êste várias soluções são possíveis. Esta é a que nos ocorre, limitada pelas dimensões e pela forma do terreno, limitada principalmente pelas características do empreendimento.
 
nota: incluímos ainda uma escolinha de arte e um instituto de artes plásticas."  *2
 
 

*1 NIEMEYER, Oscar. CB. 23/07/69. Fundação Oscar Niemeyer. Coleção Oscar Niemeyer.
 
*2 NIEMEYER, Oscar. Centro da Barra. Rio 23-7-69. Fundação Oscar Niemeyer. Coleção Oscar Niemeyer.