"Em 1965 projetamos o estádio de Brasília. Um estádio para 50.000 pessoas, coberto, com arquibancada lateral, possibilitando várias finalidades.
Agora, com o programa alterado e o estádio previsto para 140.000 , sou obrigado a rever o assunto e elaborar outro projeto, procurando , se possível, mantê-lo com o mesmo espírito, isto é, inovador e diferente.
Um dos problemas mais graves que um estádio para 140.000 espectadores apresenta é a proteção do público nas áreas insoladas, problema que nos países tropicais como o Brasil assume maior importância. Diversas soluções têm sido sugeridas mas o assunto é complexo e nenhuma delas - é fácil constatar - o resolveu plenamente. A solução proposta por Le Corbusier e por nós adotada no primeiro estudo é a de limitar a localização do público nos setores bem orientados, proposição correta nos estádios até 50.000 espectadores e quando destinados a outras atividades como música, teatro, balet, etc pois nos grandes estádios ela cria problemas de visibilidade, afastando demasiadamente o espectador do campo de esporte prejudicando o próprio espetáculo que nos outros estádios é enriquecido com a participação total do público, distribuído pelas arquibancadas em torno do campo.
Quem frequenta os estádios de futebol - o Maracanã, por ex, compreende perfeitamente o problema, sentindo à sua volta o estádio repleto, cheio de bandeiras, gritos, música e alegria.
Apesar das limitações impostas pelo programa fornecido (construção da marquise por etapas, etc) sentimos, satisfeitos, que nossa solução constituirá boa contribuição para o problema, oferecendo aos espectadores o conforto procurado, protegendo-os inteiramente do sol, protegendo-os inclusive da chuva que nos dias de vento invade - mesmo nos setores cobertos - a arquibancada.
Nosso projeto prevê a construção da cobertura em duas etapas e, numa terceira etapa, a execução do sistema protetor idealizado; cabos de nylon afastados de dois em dois metros, providos de placas de plástico que fios, também de nylon, mantém nos afastamentos desejados. No resto, o estádio segue as normas usuais, num esquema de circulação simples e definido com a utilização apropriada de largas rampas e galerias, permitindo o escoamento de todo o estádio em quinze minutos. A estrutura tem seus apoios distanciados de dez em dez metros e a cobertura, cuidadosamente estudada, nas suas seções e contra pesos. Todos esses problemas foram revistos por técnicos especializados; os de estrutura, cobertura de nylon, etc, pelo engenheiro Fabreguettes, responsável pelo cálculo das usinas atômicas da França e os de iluminação, pelo engenheiro Azzo, especialista no assunto.
Eis os aspectos principais do nosso projeto cujas características deverão se repetir nos demais elementos do conjunto, a fim de que a obra - verdadeira vila olímpica - se mantenha na unidade indispensável. Compreende o Centro Esportivo de Brasília, além dos três estádios - futebol, piscina olímpica e ginásio - os edifícios da administração, da Escola Nacional de Educação Física, do centro médico, polícia, restaurantes, residências, etc, e um estacionamento para 50.000 carros.
A obra projetada para o estádio de futebol permitirá várias etapas - todas necessárias - pois o estádio de Brasília deverá constituir por sua própria localização, o mais moderno estádio do país.
Nota importante:
Programação possível da construção caso não seja conveniente fazê-la de uma só vez:
1. etapa: estrutura e instalações e o estádio em condições de funcionar.
2. 50% da cobertura
3. complementação da cobertura
4. sistema protetor." *1
*1 NIEMEYER, Oscar. [Estádio Brasília]. Paris, 16 outubro 1970. Fundação Oscar Niemeyer. Coleção Oscar Niemeyer.