"O programa proposto para a ZAC de Dieppe é tão simples que permite sugerir o tipo de urbanização que sempre nos atraiu. Caracteriza-se essa hipótese urbanística na completa separação das circulações de veículos e pedestres e consequentemente, na redução das distâncias entre setores. É, se assim podemos dizer, uma volta romântica, mas lúcida, às velhas cidades medievais, percorridas tranquilamente pelo homem pois nelas os caminhos eram curtos e ao pedestre o solo ainda pertencia.
Nossa tarefa começou pela análise urbanística, dimensionando áreas, fixando acessos, zoneamento, etc. Primeiro criamos os setores habitacionais previstos no programa, depois, entre eles, para manter os afastamentos desejáveis, o centro comercial.
Mas explicaremos a ZAC de Dieppe como se ela já estivesse construída e habitada.
Iniciaremos esse passeio imaginário pela estrada de acesso à ZAC, estrada que , pouco adiante, toma caminhos diferentes: um conduzindo à zona industrial; outro, ao setor habitacional (1ª etapa); e outro ainda, ao centro comercial e ao setor habitacional da 2ª etapa. Preferimos esse último e sem nos determos no centro comercial, prosseguimos ao setor de habitações que já se insinua à nossa frente, com seus blocos curvos de 19 e 12 pavimentos.
De um lado, debruçadas na encosta, vemos as casas geminadas de 2 pavimentos; do outro, os blocos de apartamentos. E atravessamos os pilotis desses blocos , parando no centro do terreno. Sentimos então como é justa a solução adotada, com as habitações integradas na natureza, cercando em leque - como a protegê-la - a grande praça ajardinada na qual se distribuem escolas maternais, primárias, clube, piscina, "playgrounds" etc. Trata-se de um velho princípio urbanístico - "os equipamentos ao pé da habitação" - nem sempre atendido mas aqui rigorosamente adotado.
E passeamos pelo gramado, surpresos com os volumes e espaços livres que nos cercam envolvidos pelo ambiente de paz e sossego que - moradores dos grandes centros - começávamos a esquecer. Como seria bom viver naquela ZAC! As noites calmas, quietas, sem nenhum barulho; como se a própria natureza precisasse descansar um pouco pois no dia seguinte, cedo, as crianças já estarão a brincar pela relva, a correr em algazarra pelo parque, tranquilas, longe dos carros que ficam na periferia.. Devagar, como se desejássemos ali ficar para sempre, partimos afinal para o centro de comércio.
As ligações entre habitações, escolas, esporte e centro comercial, podem ser feitas de carro ou a pé e resolvemos prosseguir passeando , pelo caminho ensaibrado destinado aos pedestres.
A primeira construção que aparece é o mercado de apoio, limitado às solicitações do dia a dia, sem competir com o centro comercial que deve constituir o lugar de encontro forçado dos moradores da ZAC e da própria região. E o atingimos 5 minutos após, surpresos com o ambiente de animação e movimento que nos oferece.
É uma pequena rua - só para pedestres - ladeada de lojas, protegida por uma extensa marquise; rua que logo se transforma em larga praça, cercada de restaurantes, bares, casas de discos, etc; com o povo distribuído pelas mesas ao ar livre ou a cruzá-la em grupos, em todos os sentidos.
É um clima de festa, música e alegria, o contraste procurado com as áreas habitacionais; mais íntimas, cercadas de parques e jardins. Satisfeitos, ficamos a examinar o projeto: a praça - o cinema e a biblioteca que a completam - e mais além, o estádio e o caminho de "promenade" que desce, pitoresco, pelo vale entre denso arvoredo. E depois o estádio, , procurando compreender o conjunto: as escolas que cercam e os prédios destinados ao centro médico, aos setores de saúde e habitação.
A ZAC está fixada. E atravessamos a praça e a galeria que leva ao estacionamento do centro comercial, onde o carro nos espera. E nele embarcamos, pensando com desânimo que voltávamos ao conflito urbano, às imposições do tráfego, à poluição.
A ZAC de Dieppe parecia-nos - na sua pequena escala - uma resposta justa a tudo isso." *1
"Dois acessos servem à zac de Dieppe: um, conduz à zona industrial e à zona de habitação; outro, ao centro comercial e à zona B de habitação.
Preferimos este último, e passando pelo estacionamento da zona comercial seguimos em direção às habitações.
De um lado, debruçadas na encosta, surgiram as casas geminadas de dois pavimentos; de outro, os apartamentos. E atravessando então os pilotis desses edifícios, parando satisfeitos no centro do terreno. Como era justa a solução adotada, com as habitações integradas na vegetação, cercando em leque a grande praça arborizada, as escolas, o clube e os campos de esporte! Trata-se de um velho princípio urbanístico - o equipamento ao pé da habitação - um princípio nem sempre atendido, mas ali rigorosamente aplicado.
E passeamos pelo gramado, satisfeitos com os volumes que nos cercavam, envolvidos pelo ambiente de paz e sossego que - moradores dos grandes centros - começamos a esquecer. E pensávamos então, como seria bom viver naquele local, nas noites calmas e silenciosas que o envolveriam, como se a própria natureza precisasse descansar um pouco.
Devagar, como se ali desejássemos ficar indefinidamente, partimos para o centro comercial, pelo caminho, ensaibrado, também destinado aos pedestres. E a primeira construção que apareceu foi o mercado de apoio, limitado às solicitações do dia-a-dia e, logo depois, o centro comercial, que deve constituir o lugar dos moradores da zac e mesmo da região.
Em cinco minutos o atingimos, surpresos com o ambiente de animação e movimento que oferecia: um extenso drugstore, ladeado de lojas, integrado na praça que o cinema e a biblioteca complementavam. Curiosos, ficamos a olhar aquele local de encontros, o público que nele circulava, os cafés e os restaurantes cheios de gente, os que entravam e saíam das lojas, partindo com seus embrulhos para o estacionamento ou, pela rua de pedestres, para o centro habitacional. Sentíamos que muitos se conheciam e se cumprimentavam, como se uma grande família morasse naquela zac. E o contraste com os grandes centros nos vinha à memória, habituados ao not to be envolved das metrópoles.
E descemos o caminho de promenade, coberto de denso arvoredo, subindo depois em direção ao estádio, as escolas e ao centro comercial de saúde. A zac estava vista e do centro comercial iniciamos o caminho de volta, onde o conflito urbano, as imposições do tráfego e a poluição nos esperavam." *2
*1 NIEMEYER, Oscar. ZAC de Dieppe. Paris 18.1.73 . Fundação Oscar Niemeyer. Coleção Oscar Niemeyer.
*2 ZACs na França. Módulo, Rio de Janeiro, n.53, p.76-9, mar./abr. 1979.