"Neste projeto o problema principal era preservar os espaços verdes que o programa fornecido ameaçava, principalmente a zona comercial prevista com cerca de 7000 metros quadrados. Assim nossa primeira preocupação foi criar uma praça rebaixada - 3m - e nela, sob o parque, situar a área destinada ao comércio. Não queríamos cortar a vista do parque com uma construção tão grande. Não queríamos cortar a vista do parque com uma construção tão grande.

E projetamos o teatro simples e moderno, capaz de se integrar sem contrastes negativos na velha arquitetura de Vicenza, fugindo inclusive à forma tradicional que não exprime o teatro de vanguarda desejado.

Preocupados com a pureza do projeto, utilizamos o cálculo acústico como a principal característica de sua arquitetura, que surgiu sóbria, variada, exprimindo honestamente seus espaços interiores.

Será uma forma quase abstrata toda de mármore branco como o local e sua finalidade justificam.

Com igual cuidado prosseguimos no projeto, criando entradas independentes para o teatro, as salas de reunião - convenções - e o serviço, prevendo o acesso principal fora do bloco, garantindo assim, ao teatro a flexibilidade hoje reclamada. No térreo ficarão as salas de reunião, diretamente ligadas à sala de espetáculos; no 1º piso, o foyer e os serviços de palco; no 2º piso a sala de espetáculos.

Próximo ao teatro, ficará o bloco do hotel com 100 quartos e 6 pavimentos e em baixo do parque o  comércio com lojas, cafés, bares, discotecas, livraria, restaurante, bancos, etc."  *1

 

"Quando me convidaram para elaborar este projeto na Itália, aceitei o oferecimento satisfeito. Era mais uma prova de que minha arquitetura encontra naquele país a receptividade desejada. Por outro lado, o projeto se destinava a Vicenza, uma velha cidade italiana, a cidade de Palladio, um dos seus mestres preferidos. E procurei compreendê-la em seus múltiplos aspectos: do local escolhido, cheio de vegetação e beleza ao cenário que o circunda, austero e colorido. E a idéia de preservar a cidade ao máximo, o parque inclusive, comandou nossos estudos, certos de que, num caso como Vicenza, é a cidade que conta, dela devendo decorrer qualquer opção urbanística. Assim, o problema básico foi preservar Vicenza e o parque magnífico, que um programa com 7000 m2 de comércio ameaçava. Nossa preocupação primeira foi criar a praça descendente e nela, sob o parque, situar o comércio. Não o queríamos esconder com uma construção tão grande. Depois estudamos o teatro e o hotel: compactos, em função dos espaços existentes; circulares, para melhor se adaptarem à forma e às dimensões da praça. Cautelosamente, voltamos ao material enviado, às fotos de Vicenza, ao velho casaria, à arquitetura de Palladio, cheia de vida, de claro-escuro e imaginação. E nos detivemos na Basílica por ele projetada, com suas colunas separadas em grupos, imaginando o que se diria hoje de um arquiteto que ousasse solução parecida, tão ostensivamente contrária à 'pureza' funcionalista. Trata-se de uma simples opção entre um apoio robusto e um grupo de apoios mais leves, ricamente elaborados. E a idéia que há muito tempo me persegue voltou à tona: projetar um prédio, desprezando tudo que o funcionalismo defende: um prédio feito de poesia, de graça e imaginação. Mas ao desenhar as fachadas do teatro e do hotel, ao ver seus cilindros tão bem integrados na praça e na velha arquitetura de Vicenza, mudei de opinião. E os deixei simples como nasceram, criando a cobertura acústica do teatro, o elemento de contraste e inovação que faltava. O projeto estava pronto e com ele a maquete e o texto explicativo. Fiquei tranqüilo. Adaptava-se bem à arquitetura local, lembrando coisas passadas; duas esculturas de mármore branco ou reminiscências guardadas ainda mais antigas. Meu colega Frederico se entusiasmou com a solução que adotamos e juntos desenvolvemos o projeto. Rio, 10.8.78. Oscar Niemeyer.  *2

 

 

 

*1 NIEMEYER, Oscar. [Conjunto Arquitetônico em Vicenza]. s.d. Fundação Oscar Niemeyer. Coleção Oscar Niemeyer.

 

*2 NIEMEYER, Oscar. Conjunto arquitetônico em Vicenza, Itália. Módulo, Rio de Janeiro, n.51, p.59-61, out./nov.1978.