Obra / Arquitetura

Michel MochMichel MochMichel Moch
MUSEU DO ÍNDIO
Ano: 1982
Local: Brasília
País: Brasil
Descrição:

 

"Quando me pediram para projetar o Museu do Índio, não vacilei. Trata-se de uma obra diferente destinada a levar a todos que visitassem a história do índio brasileiro e sua trajetória dolorosa no país.
O período colonial com seus massacres sucessivos, a fase da extração da borracha, do ouro e das pedras preciosas quando novamente o agrediram, levando-o dizimado, às áreas mais distantes do Brasil. E por fim, as penetrações fazendárias e capitalistas que ainda ocorrem, invadindo seus territórios indefesos.
Mas o Museu do Índio lembrará também os que primeiro o souberam defender; os que louvaram com inventadas bravuras; os que seguindo o exemplo de Cândido Mariano da Silva Rondon dele se ocuparam abnegadamente, esclarecendo o problema do índio, dando-lhe uma nova e necessária escala, propondo soluções que preservem seus territórios, sua cultura e sua formação étnica nesse contato difícil com a civilização.
O Museu do Índio compreende uma construção circular com 70 mts de diâmetro, com as salas abrindo para um grande pátio interior. Solução que visa manter o clima de intimidade e respeito que um museu reclama.
Uma larga rampa levará os visitantes ao primeiro andar. Aí ele entrará em contato com os serviços de recepção, controle fichários e a seguir, com o museu propriamente dito.
Pelos grandes espaços curvos que constituem o Museu ele verá sucessivamente as diversas seções que representam o roteiro de exposição: exposição temporária, origem e evolução, índios selvícolas, índios campineiros, nossa herança e índios e a civilização.
E tudo isso com a utilização de filmes, microfilmes, dispositivos, maquetes, fotos e textos, dentro portanto, dos mais modernos sistemas de comunicação.
Em baixo, diretamente ligados ao primeiro pavimento, ficarão a direção, os serviços gerais, as salas de aulas, o auditório, a biblioteca e os arquivos.
É a parte, vamos dizer, dinâmica e viva do Museu, promovendo palestras, cursos e debates, trazendo ao público e aos interessados os problemas que o índio brasileiro ainda enfrenta nessa fase de integração inevitável.
E todos sentirão a grandeza do empreendimento, o objetivo respeitável de dar ao índio brasileiro a atenção que merece nesta terra que, muito antes de nós, lhe pertenceu.
Para mim, o fato do Museu do Índio ser construído em Brasília ainda mais o justifica. Para seus visitantes ele marcará o contraste entre o passado e o presente. As origens e as esperanças deste grande país."  *1
 
 
"O problema do Museu do Índio volta aos jornais e eu, como arquiteto desse projeto, quero mais uma vez esclarecer o assunto.
Durante muito tempo o projeto do Museu do Índio ficou no papel e, quando o ex-governador José Aparecido resolveu iniciar sua construção e ela já estava adiantada, surgiu o novo programa construtivo.
Não se tratava de mais um grande salão de exposição, mas criar um verdadeiro centro de estudos, com salas para direção, aulas, pesquisas, auditório, biblioteca etc. Sua tarefa principal seria defender os problemas do índio, discuti-los e analisá-los.
É claro que a idéia era correta e atualizada, mas não para ser aplicada numa obra em conclusão, cujos espaços - tão bonitos - seriam transformados em salas de todos os tipos.
Como arquiteto, o problema passou a me preocupar e, na primeira visita que fiz ao local com José Aparecido, expus ao meu amigo minhas inquietudes. E ele logo compreendeu o problema, criando o Museu de Arte Moderna, pedindo-me para fazer um novo projeto para o Museu do Índio.
Em poucos dias, cumpri a tarefa e o local escolhido para sua construção foi a Universidade de Brasília, onde se integraria muito bem nos programas de estudos e pesquisas já existentes.
O projeto do Museu do Índio atende a todos os requisitos do novo programa, é fácil e rápido de construir, exprimindo na sua arquitetura as características das velhas construções indígenas em nosso País.
É o que me cabe dizer, lembrando que o Museu do Índio será construído e o de Arte Moderna, já inaugurado, representa uma nova etapa na divulgação das artes plásticas em nosso País, o que aos artistas e a todos que pelo assunto se interessam só deve entusiasmar."  *2
 
 
*1 NIEMEYER, Oscar. Museu do Índio - Brasília, DF. Módulo, Rio de Janeiro, n.72, p.57, 1982.
 
*2 NIEMEYER, Oscar. Museu do Índio. Módulo, Especial 30 anos, Rio de Janeiro, n.89/90, p.180-1, 1986. Número especial.