"O projeto do Centro Cultural a ser construído no eixo monumental de Brasília, se constitui de quatro edifícios compreendendo a sede da Secretaria de Cultura, o Arquivo Nacional, a Biblioteca e o Museu.
O objetivo com a elaboração desses projetos foi garantir a unidade arquitetônica desses setores.
Experiências anteriores, como ocorreu no setor bancário, demonstraram a necessidade dessa decisão. Durante um longo período de desamor e desinteresse pela Nova Capital essa área foi desmerecida com a construção que fugindo às diretrizes urbanísticas do local, gabaritos, volumes e ao próprio espírito da sua arquitetura a comprometeram definitivamente
Temendo que o mesmo venha a acontecer no eixo monumental até hoje preservado na sua unidade arquitetônica, José Aparecido resolveu, como Ministro da Cultura, determinar fossem projetados os edifícios que compõem a zona cultural no eixo referido, deixando a construção dos mesmos para época mais propícia tendo os problemas econômicos que o país atravessa.
Tudo isso exigia da nossa parte que os projetos em estudo fossem elaborados de tal maneira que esses edifícios continuem atualizados na ocasião em que forem construídos, isto é, flexíveis nas suas soluções internas e de tal forma que idéias novas encontrem espaços necessários.
Assim a nossa preocupação não foi definir em caráter definitivo seus acabamentos mas fazê-los tão preparados às necessidades futuras que nelas se adaptem naturalmente.
Na biblioteca, por exemplo, procuramos solução que, guardando seu aspecto tradicional, lhe permitisse ao mesmo tempo transformar-se na biblioteca informatizada de amanhã; o arquivo que atendendo às solicitações dos programas que nos foram entregues, se adapta também às novas formas de trabalho que poderão surgir. Até a sede do Ministério da Cultura segue no seu projeto essa preocupação com os sistemas de divisões internas removíveis, podendo inclusive ser reduzido em altura se novos programas de governo o exigirem.
No Museu o caso era diferente. Dedicado às nossas riquezas naturais ele vai exibí-las de maneira mais lógica e objetiva, levantando, ao mesmo tempo, os problemas de preservação ambiental hoje tão discutidos, assim como os que visam defender nossas riquezas naturais.
Nesse sentido o Museu criará cursos, exposições etc, demonstrando como tudo isso é fundamental num país como o nosso, propondo as soluções necessárias e a urgência que demandam nesse ambiente de pressões externas onde a defesa de nossa soberania muitas vezes se vê ameaçada.
Daí a preocupação especial com que foram estudados os edifícios do Setor Cultural de Brasília, dando aos aspectos referidos importância absoluta.
Agora, passados esses longos meses de trabalho, sentimos satisfeitos que os projetos que apresentamos atendem aos objetivos procurados; que os edifícios são modernos, soltos e leves como desejávamos e se correspondem plasticamente nesse jogo de formas inovadoras que marca a arquitetura da Nova Capital; que guardam na escala desejável os espaços livres com suas estruturas arrojadas essa nova etapa da arquitetura de Brasília.
Como arquiteto de Brasília eu agradeço em nome dos que comigo trabalharam a José Aparecido essa tarefa que com tanta confiança nos ofereceu, esperando tê-la atendido com o melhor dos nossos esforços." *1
- A idéia de um centro cultural de expressão nacional em Brasília já estava prevista no plano piloto de Lucio Costa para o setor cultural do Eixo Monumental da capital, cuja área (entre o Teatro Nacional e os Ministérios-padrão, de um lado, e no outro, entre a sede do Touring Clube e a Catedral), encontrava-se ainda desocupada. *2
*1 NIEMEYER, Oscar. Centro Cultural de Brasília. s.d. Fundação Oscar Niemeyer. Coleção Oscar Niemeyer.
*2 KATINSKY, Júlio. Brasília em três tempos: a arquitetura de Oscar Niemeyer na capital. Rio de Janeiro: Revan, 1981. 79p. (p.78-9)