"Pelo monorail corremos sobre a urbanização de Cabo Frio. Um passeio formidável! é assim, do alto, que sentimos melhor a natureza e que ela mais bonita nos parece. São praias brancas, grandes salinas, terra virgem ainda não poluída pelo homem.
O guia nos explica o empreendimento. 'Vejam, aqui é a entrada, o lugar dos controles, da recepção e dos embarques. Aqui se toma a lancha, o carro elétrico ou, como nós, o monorail. Carro a combustão não entra. Não querem esta área poluída.'
O monorail começava a deslizar sobre a guia de aço quando surgiram os dois primeiros setores - os 'villages'. Olhamos surpresos: duas grandes ilhas com 700m de diâmetro. E as casa geminadas, de 3 pavimentos, distribuídas harmoniosamente em blocos de 100m, pelo terreno.
De cima vemos os blocos, os casais abraçados, as crianças a correrem pela praia com suas roupas coloridas. Parece que a ilha lhes pertence.
Pedimos para descer. Mas o guia insiste: 'Olhem ali. Do outro lado.' É o centro cultural e esportivo, com campos de futebol, tênis, ginásio, escola de Educação Física etc. É o esporte a todos estendido.
Descemos. Como são bonitas as duas praças! Ambas cheias de cafés, bares e restaurantes. Uma brilhando ao sol, a outra em sombra lembrando os velhos telhados coloniais ou como dizia o Eça 'as preguiças do verão'.
O comércio é bom, as lojas atualizadas, todas modernas. É a simplicidade que as integra no conceito arquitetônico adotado. Não copiar. Criar coisas diferentes, simples, autênticas.
O monorail prossegue e logo surgem as faixas habitacionais das marinas. Casas simples, avarandadas, lembrando vida ao ar livre e gente feliz.
Olhamos adiante. É o colar das casas que acompanha as praias.
Casas modernas como que pousadas sobre a estrada. E o guia nos ajuda com a lição decorada. "Não queriam bloquear as praias como o loteamento usual. Preferiram uma solução que permitisse passar entre as casa como os cabelos num pente fino. Na solução de rotina" - explica-nos minucioso - 'as casas cercam as praias e só de rua em rua, as podemos atingir. Aqui entre cada grupo de casas tem a possibilidade de se chegar à praia. É a solução lógica, irrecusável.'
E aí compreendemos o espírito daquele colar tão bonito cuja finalidade ainda não tínhamos percebido. 'Olhem ali' - volta a falar o guia - 'Olhem o Centro de Rejuvenescimento. É igual aos de Miami. Você entra e 15 dias depois a roupa está larga no corpo. São banhos especiais, saunas, massagens, campos de esporte, piscina, 'cooper', etc'. Os tratamentos mais modernos.
O passeio terminava e ficamos a olhar para trás, como se saúde tivéssemos daquele lugar tão bonito. Docemente, como um pássaro, o monorail nos levou ao ponto de partida." *1
*1 NIEMEYER, Oscar. Arquipélago Perynas ou [Urbanização da Marina de Cabo Frio].Rio, 27-12/83. Fundação Oscar Niemeyer. Coleção Oscar Niemeyer