"O projeto de um clube apresenta tantas soluções possíveis que nelas o arquiteto de detém longamente a procura do partido a adotar. Isso explica o trabalho que este projeto nos deu (juntamos croquis elaborados) obrigando-nos a examinar varias hipóteses, pesando-as minuciosamente, constatando suas possibilidades plásticas e funcionais, dentro do terreno e programas fornecidos.
Mas a idéia de projetar um clube aos que multiplicam pelo Brasil afora - em Brasília, inclusive - não nos atraía. Seria na verdade um clube a mais, uma solução já esperada e conhecida; os piloteis, com as áreas de recreação nele localizadas e, no 2º andar, os salões de estar, festas, jogos, etc.
E tudo isso, como se um clube não permitisse outra solução, mais livre e inovadora.
E começamos a imaginar como fazer um clube diferente, sem corredores e galerias, sem as salas a se comunicarem umas com as outras, lembrando, como não raro acontece, um enorme apartamento. E ocorreu-nos projetar uma grande marquise sob a qual, entre jardins, localizamos os salões de estar, festas, jogos, restaurantes, etc, que constituem a sede social propriamente dita. São salões envidraçados, independentes uns dos outros, que se prolongam pelas áreas abertas e ajardinadas da marquise. E esta, desenhada de forma irregular, integrada nos jardins que nela penetram como pretendíamos.
E confortou-nos pensar o clube já construído, com os sócios a transitarem sob a marquise, sentindo-se enfim no ambiente saudável, aberto e informal que deve oferecer um clube esportivo.
Mas o problema do clube não se limitava apenas à sede social,. A proximidade do lago abria para o nosso projeto um campo novo, cheio de atração e interesse. E fixamos em nosso estudo dois níveis distintos: a cota +5 onde fica a sede social e a cota +1 onde situamos; auditório, salão de beleza, barbearia, vestiário, saunas, etc; e junto do lago; restaurantes, bares, lojas e embarcadouros. E nos detivemos neste último setor, preocupados em dar-lhe um ambiente peculiar, um ambiente singelo que lembrava um pequeno povoado dos nossos portos do nordeste. E com esse objetivo desenhamos lojas, bares e restaurantes, com pavimento terreo somente, geminados, com as mesas distribuídas pelo cais, colorido pelos veleiros que entram e saem, cheio de sol e alegria.
Tínhamos criado entre a sede moderna e atualizada e o cais simples e rústico, o contraste procurado e que tão bem caracteriza e realça arquiteturas diferentes.
Mas faltava ainda estudar o setor esportivo programado para o terreno anexo e fixamos a rua subterrânea, projetando o ginásio, os serviços administrativos e os campos de esporte.
Estava pronto o projeto. Relemos o texto e examinamos outra vez, a maquete. A solução agradou-nos com a grande cobertura como que abraçando jardins e piscinas e o cais cheio de barcos, lembrando que um novo ponto de atração vai surgir em Brasília que já vive e palpita como uma verdadeira capital." *1
*1 NIEMEYER, Oscar. [Clube Brasília]. Rio 21/10/73. Fundação Oscar Niemeyer. Coleção Oscar Niemeyer