"Era um prédio construído 40 anos atrás, suspenso em pilotis, com vãos de 30 e 60 metros e as fachadas cegas como a iluminação zenital adotada permitia. Era tão leve e atualizado que surgiu a idéia de transformá-lo num museu de arte. E isso explica o grande salão projetado, solto no ar, com 70m de comprimento e 30m de largura. As rampas de acesso indispensáveis, e o novo museu a exibir com sua forma diferente os milagres que o concreto armado oferece à arquitetura contemporânea." *1
" A idéia é transformar um edifício que projetei muitos anos atrás num grande museu, metamorfose que, para surpresa minha, não apresentou maiores problemas. Será tão bem sucedida que o museu imaginado constituirá, sem dúvida, uma obra espetacular.
A minha sugestão é que o ovo museu ocupe todo o edifício existente, o que é possível com poucas modificações.
No térreo, por exemplo, o que existe seria mantido - com alterações internas, é claro,. Nada de novo aí deveria ser construído: o espaço faz parte da arquitetura, e isso é que garante a este antigo prédio a dignidade arquitetural procurada. O auditório seria apenas melhorado; o grande quadrado envidraçado ao lado dele, adaptado em função dos congressos que ali poderiam ser programados. o mesmo acontecendo no outro extremo do edifício onde a área construída serviria perfeitamente para os serviços de recepção, direção etc.
Ao examinar as plantas do primeiro piso, onde extensos muros de concreto estabelecem, em grande parte do andar, faixas inteiramente independentes, temi que a adaptação prevista não apresentasse a clareza que a boa arquitetura exige.
Felizmente, o problema foi resolvido. Nas faixas externas, deixando livres os espaços vazios entre as vigas da cobertura, criaria para as salas de trabalho a ventilação e a iluminação zenital indispensáveis. Para as faixas centrais, verifiquei, satisfeito, que, destinando-as a serviços adequados como biblioteca, arquivo, almoxarifado, depósito etc., nenhum problema funcional haveria.
Quanto aos salões de exposições e serviços anexos, a minha ideia foi sempre que só no terraço poderiam ser localizados, levando em conta os problemas de pé direito e esse jogo de áreas abertas e fechadas que faz parte da arquitetura mais livre e criativa que prefiro.
O acesso ao museu seria feito por dois elevadores e uma rampa imponente com seis metros de largura. Aí os visitantes se veriam num grande jardim, com espelhos d'água e esculturas, e, protegidos pela extensa marquise, poderiam chegar aos salões do museu e ao bloco de apoio.
O grande salão de exposições terá 40 m x 60 m, altura de 14 m, prestando-se assim aos mais variados tipos de exposição. É difícil encontrar, mesmo no exterior, um salão de tais dimensões.
O bloco de apoio terá de 40 m x 20 m, e a minha idéia é nele prever um restaurante, um pequeno auditório, uma livraria e três lojas. A princípio, pensei que ele poderia destinar-se também a exposições - exposições menores, rotativas etc. Mas, como o bloco previsto é muito espaçoso, julguei mais interessante mantê-lo como bloco de apoio, o que sem dúvida daria mais vida ao conjunto.
Para esses dois grandes espaços, que constituem o museu propriamente dito, estudei um tipo de estrutura que em nada interfere na construção existente. Os apoios são externos e a estrutura metálica, mais fácil de construir e mais leve, principalmente.
Devo acrescentar que essas estruturas foram calculadas e dimensionadas por José Carlos Sussekind, que é o engenheiro calculista que acompanha todos os meus trabalhos.
Quanto aos problemas do ar condicionado, as plantas indicam as passagens previstas e a localização das casa das máquinas no piso inferior.
O projeto prevê três acessos - um para a entrada principal, outro para o transporte de obras de arte e o terceiro para os serviços de restaurante etc.
O novo museu poderá contar com salas de trabalho, reuniões, desenho, cursos, auditório, reserva técnica e áreas destinadas a biblioteca, arquivo, almoxarifado, depósito etc. Em todas elas as divisões internas serão removíveis a fim de atender os problemas funcionais imprevisíveis que no futuro o museu possa enfrentar.
Olho a maquete, e ninguém vai imaginar que este prédio é uma adaptação de uma obra já realizada, e, menos ainda, a economia fantástica que essa metamorfose permitiu." *2
*1 OSCAR Niemeyer. Minha Arquitetura, 1937-2004. Rio de Janeiro: Revan, 2004. p. 290
*2 NIEMEYER, Oscar. Oscar Niemeyer: 1999-2009. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009. p.80