"Quando, pela primeira vez, vi o Plano de Lucio Costa, senti com satisfação a importância que ele dava à minha arquitetura, localizando os prédios governamentais em destaque diante dos eixos longitudinais do Plano.
Depois, com o início das construções, fui constatando que a solução adotada não era tão adequada como anteriormente o próprio Lucio e eu pensávamos. Dos prédios, na realidade, só as fachadas apareciam, eles a seguirem uns atrás dos outros, monotonamente, pelos eixos afora.
Dos prédios por mim projetados apenas o Palácio do Congresso, que estendi de lado a lado daqueles eixos, permitia ver melhor a sua arquitetura. E preocupava-me não encontrar um edifício mais solto no terreno e, mais ainda, um conjunto de dois ou três prédios que me permitisse criar qualquer coisa com mais movimento, os contrastes de forma mais variados que dão à arquitetura maior surpresa e, não raro, a monumentalidade desejada.
Sentia que, além do estacionamento indispensável, faltava ao Plano Piloto a grande praça, atraente e acolhedora, que marca as grandes capitais. A praça existente faz parte do prédio da Rodoviária, modesta demais para ser levada em conta.
Na nova praça, ligada diretamente à Rodoviária, apenas dois edifícios estão previstos, ambos já solicitados pelo governo do Distrito Federal. Um deles, um prédio baixo em curvas e pilotis, dedicado à memória dos Presidentes da República que, ao correr dos anos, dirigiram a vida brasileira; o outro, um grande triângulo diante deste levantado, a exibir uma exposição permanente do progresso do nosso país. E o triângulo a crescer com mais de 100 m de altura como um dos marcos principais da cidade.
A solução me agradou - em nada alterava o Plano Piloto, a praça parecendo apenas pousada sobre o Eixo Monumental.
Por outro lado, sabia que uma cidade não representa somente o urbanista que a desenhou, mas também o arquiteto incumbido de sua arquitetura. E diante disso senti-me perfeitamente à vontade: era o arquiteto defendendo sua arquitetura, um dever que o seu trabalho impõe. Uma atitude correta, comprovada pelo apoio que recebi dos principais arquitetos desta capital." *1
*1 NIEMEYER, Oscar. Oscar Niemeyer: 1999-2009. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009. p. 52.