"Vou aproveitar a apresentação deste projeto - A Cidade Administrativa de Minas Gerais - para demonstrar como a adoção de uma arquitetura de escala maior se impõe em certos casos.
E para evitar as críticas tão comuns e apressadas sirvo-me, como exemplo, do projeto que elaborei (e foi construído) para a universidade de Constantine na Argélia.
O programa que nos apresentaram para essa Universidade previa mais de 20 edifícios. E construímos apenas seis edifícios de grande porte - o de Classes e o de Ciências, com 300 metros de comprimento (pilotis e dois pavimentos).
No primeiro localizamos salas de aula e auditórios. No segundo, todos os laboratórios que uma universidade requer. Desses prédios do grande auditório e da biblioteca servem-se as faculdades, completando-se o conjunto com o Edifício da Administração e o restaurante.
Com essa solução evitamos a construção dos edifícios destinados às faculdades. E com isso o terreno - belíssimo - não foi dividido em pequenas áreas. A obra ficou muito mais econômica, e a idéia da universidade aberta que Darcy Ribeiro defendia tornou-se realidade com a nossa arquitetura. Os alunos das diversas faculdades a se servirem dos mesmos edifícios - dos de Classes e de Ciências -, e com isso, o diálogo, a troca de experiências, que a universidade aberta do nosso amigo reclamava.
Quando o Governador do Estado de MInas Gerais, Aécio Neves, veio ver o projeto da Cidade Administrativa, esperava, como a grande maioria, que o Palácio Governamental estaria cercado de 15 ou mais edifícios para atender o programa fixado, e o terreno tão bem escolhido, dividido em pequenas áreas que aqueles prédios criariam.
E o seu espanto se transformou logo num grande entusiasmo quando lhe falei: 'O projeto que elaboramos prevê apenas três edifícios: o Palácio Governamental e dois grandes blocos curvos com 200 metros de comprimentoe 20 pavimentos. Neles seriam instaladas todas as Secretarias.'
Essa solução, continuei, vai facilitar e baratear muito a construção. Em vez de construir um conjunto com cerca de 20 edifícios, transformando o terreno em pequenos lotes, em princípio terá apenas de construir três.
As ligações indispensáveis entre as 17 secretarias ficarão reduzidas a uma rua subterrânea, onde seriam, com uma distância apenas de 200 metros, localizados os serviços telefônicos, correios, postos de saúde, pequenas lojas etc. Até as circulações de pedestres e veículos seriam assim independentes, a primeira ligada diretamente aos edifícios e aos estacionamentos." *1
- Área total construída: 200.00m2. O Centro Administrativo de Minas Gerais é formado por um conjunto com: Palácio com 5 pavimentos com biblioteca, restaurante e salas; Auditório com 546 lugares; dois prédios de Secretarias com 200 metros de comprimento e 20 pavimentos cada; um prédio de serviços e estacionamento. *2
*1 NIEMEYER, Oscar. Oscar Niemeyer: 1999-2009. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009. p.68.
*2 OSCAR Niemeyer, minha arquitetura, 1937-2005. Rio de Janeiro: Revan, 2005. p. 320