"O projeto deste teatro estabelece uma pausa neste correr de prédios que variam entre quatro e dez pavimentos a desmerecer a maioria das praias brasileiras.
É claro que tudo começou em função do poder imobiliário e sua ânsia invencível de lucro sem o menor respeito pelas mais primárias regras de correção e bom gosto. Isso sem falar do aspecto urbanístico que essas avenidas litorâneas apresentam, quando, destinadas a tráfego mais intenso, cortam a ligação mais íntima da cidade com as praias.
É a preocupação de obras suntuosas que explica tudo isso, impedindo, como seria mais agradável, que a cidade e as praias constituíssem um conjunto mais harmonioso, com praças e jardins a enriquecê-lo.
No caso do teatro do Recife a solução que propomos evita a repetição das velhas avenidas litorâneas a que me referi, criando uma separação rígida retilínea que as construções de mau gosto ajudam a empobrecer. A uma distância de 200 m o teatro vai impedir tanto desacerto.
Numa grande área ajardinada serão situados o teatro, o prédio de apoio com escritórios, lojas etc., o salão de exposições, e um mirante, que, a 20 m de altura, dará aos visitantes uma visão panorâmica extraordinária.
Outros aspectos curiosos o visitante vai encontrar. Primeiro, a maneira simples e lógica com que uma rampa suave o leva até ao foyer do teatro, onde uma grande parede de vidro o separa da platéia. E do palco, que mais adiante, permite vislumbrar, surpreso, ele pensa como foi fácil realizar esse pequeno trajeto, que termina naturalmente próximo ao local donde partiu.
Acostumado a projetar teatros, conhecendo como os problemas de cesso - obrigando a rampas e escadas - são difíceis de resolver, sinto que uma lição de arquitetura estou oferecendo neste projeto. E me agrada mais ainda saber que a abertura do palco para o exterior foi também uma contribuição minha, nunca antes adotada.
Sorrio para o meu amigo Luiz Otávio, que me acompanha neste trabalho, da falta de modéstia inesperada, mas confesso que este projeto me agrada particularmente.
Continuo olhando a planta do teatro, e o palco abrindo para o exterior me faz sorrir satisfeito.
Olho novamente o conjunto deste projeto de que o teatro é o elemento principal. Vejo os outros edifícios; sinto que a vista para o mar está livre, como eu desejava, que o prédio da administração e lojas e o salão de exposições estão bem localizados, que o restaurante será um novo atrativo neste lugar magnífico, que, em boa hora, o Prefeito João Paulo Lima e Silva resolveu aproveitar, transformando-o num centro de cultura e lazer da melhor qualidade." *1
*1 NIEMEYER, Oscar. Oscar Niemeyer: 1999-2009. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009. p.90.